segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O Cão dos Baskervilles Capítulo Segundo

Capítulo segundo: A maldição dos Baskervilles
— Trago aqui um manuscrito — disse o dr. James Mortimer.
— Foi o que notei, quando entrou nesta sala — replicou Holmes.
— É um velho manuscrito.
— De princípios do século XVIII, a não ser que se trate de falsificação.
— Por que diz isso?
— O senhor permitiu que eu visse alguns centímetros, durante o tempo em que falou. Pobre do perito que não pudesse determinar a data de um documento, com uma marern de dez anos! Talvez o senhor tenha lido a minha pequena monografia a respeito do assunto. Calculo que o doeumento seja de 1730.
— A data exata é 1742 — disse Mortimer, tirando-o do bolso do casaco. Foi-me confiado por Sir Charles Baskerville, cuja morte trágica, há três meses, causou muita excitação em Devonshire. Posso garantir-lhe que, além de seu médico, eu era seu amigo íntimo. Sir Charles era um homem de força de vontade, Sr. Holmes, esperto, prático e tão pouco imaginativo como eu. Apesar disso tomou este documento muito a sério, e estava preparado para o fim que teve.
Holmes estendeu a mão para pegar o manuscrito e dobou-o sobre os joelhos.
— Observe, Watson, este pormenor aqui… É uma das indicações que me permitiram fixar a data.
Olhei, por cima do seu ombro, para o papel amarelo do velho documento. Ao alto estava escrito: “Baskerville Hall”, e embaixo, cm traços largos, “1742”.
—Parece ser um relatório qualquer.
—Sim, é a narrativa de uma lenda que existiu na família Baskerville.
— Mas creio que deseja me consultar a respeito de algo mais atual e prático, não?
— Mais atual, sim. Assunto muito prático e urgente, que tem de ser resolvido em vinte e quatro horas. Mas o manuscrito é breve e relaciona-se intimamente com o assunto. Vou lê-lo, se me dá licença.
Sidney Paget, 1901
Sidney Paget, 1901
Holmes reclinou-se na cadeira, juntou as pontas dos dedos e fechou os olhos, com ar resignado. O dr. Mortimer virou o documento para a luz e leu, em voz alta e vibrante, a seguinte e curiosa narrativa;
— “Tem havido muitas versões sobre a origem do cão dos Baskervilles, e, no entanto, como descendo em linha reta de Hugo Baskerville, e como ouvi a história contada por meu pai, que antes a ouvira do seu, aqui a relato, na crença de que aconteceu conforme vai ser relatada. E desejaria que acreditásseis, meus filhos, que a mesma Justiça que pune o pecado também pode benignamente perdoá-lo, e que nenhuma excomunhão é suficientemente forte que não possa ser afastada pela prece e pelo arrependimento. Aprendei, portanto, com esta história, a não temer os frutos do passado, mas a ser circunspectos no futuro, para que as vis paixões que afligiram a nossa família não se desencadeiem novamente, para nossa ruína.
“Sabei portanto que, por ocasião da Grande Rebelião (e chamo a vossa atenção para a sua história, escrita pelo ilustre Lorde Clarendon), este domínio de Baskerville pertencia a Hugo desse nome, e não se pode negar que ele tenha sido um homem desenfreado e ímpio. Isso, em verdade, os vizinhos poderiam perdoar-lhe, uma vez que nunca houvera santos naquela região, mas havia nele um humor cruel e dissoluto que tornou célebre o seu nome no oeste. Aconteceu que Hugo começou a amar (se é que tão negra paixão pode ser descrita sob tão doce nome) a filha de um lavrador que possuía terras perto de Baskerville. A donzela, que era discreta e de boa reputação, evitava-o sempre, temendo-lhe a fama. Aconteceu que, no dia de São Miguel, esse mesmo Hugo, com cinco ou seis de seus vadios e perversos companheiros, dirigiu-se à fazenda e raptou a jovem, sabendo que seu pai e seus irmãos estavam ausentes. Quando chegaram à mansão, deixaram a donzela no andar de cima, enquanto Hugo e os amigos passavam a noite em orgia, como era seu hábito. Lá em cima, a pobre jovem quase enlouqueceu com a cantoria e os palavrões que vinham de baixo, pois era sabido que as palavras usadas por Hugo Baskerville, quando embriagado, eram de arrepiar os cabelos. Finalmente, o medo fez com que ela empreendesse aquilo que teria detido o mais bravo dos homens. Com o auxílio da hera que cobria (e ainda cobre) a parede sul, conseguiu descer e dirigir-se, através da charneca, para a casa de seu pai, que ficava a três léguas de distância.
“Aconteceu que, pouco depois, Hugo deixou os amigos para levar comida e bebida — e talvez outras coisas piores — à sua prisioneira, encontrando a gaiola vazia e o pássaro ausente. Parece, então, que ficou como que possuído pelo Diabo, pois correu para o salão de baixo e pulou sobre a mesa, fez voar garrafas e pratos e gritou para os companheiros que daria, naquela mesma noite, a alma às Forças do Mal, se conseguisse apanhar a jovem. Estavam todos estarrecidos com aquela fúria, quando um deles, mais cruel (ou talvez mais bêbado) do que os outros, bradou que deviam soltar os cães atrás dela. Com isso, Hugo saiu de casa correndo, gritando para os criados que lhe selassem a égua e soltassem a matilha. Deu aos cães um lenço da jovem, atiçou-os e com eles saiu desabaladamente pela charneca.
“Durante alguns momentos, os companheiros ficaram atônitos, sem poder compreender o que com tal pressa fora feito. Mas logo deram acordo de si e perceberam o fato horroroso que ia se consumar no campo. A algazarra agora era completa, uns a gritar pelas suas pistolas, outros pelos seus cavalos e alguns por mais uma garrafa de vinho. Finalmente, aqueles loucos recuperaram um pouco de bom senso e, montando a cavalo — eram treze, ao todo —, saíram no encalço do dono da casa. A lua brilhava por cima deles, enquanto cavalgavam a toda a pressa, enveredando pelo caminho que jovem devia ter tomado para regressar à sua casa.
Sidney Paget, 1901
Sidney Paget, 1901
“Tinham andado dois ou três quilômetros quando encontraram um dos pastores noturnos. Gritaram-lhe, perguntando se vira a caçada. O homem, conforme reza a história, estava tão apavorado que mal podia falar, mas finalmente contou que realmente vira a infeliz donzela com os cães no seu encalço. ‘Vi mais do que isso’, prosseguiu. ‘Hugo de Baskerville passou por mim na égua negra, e atrás dele corria, silencioso, um cão do inferno, tal como espero que Deus jamais permita que venha atrás de mim!’
“Os cavaleiros, bêbados, amaldiçoaram o pastor e continuaram. Mas logo sentiram o sangue gelar-se-lhes nas veias, pois ouviram um som de galope pela charneca, e a égua negra, salpicada de espuma, passou por eles com as rédeas soltas e a sela vazia. Os homens cavalgaram então lado a lado, pois estavam possuídos pelo medo; seguiram ainda pelo campo, se bem que cada um deles, se estivesse só, teria virado o cavalo para dali fugir o mais depressa possível. Cavalgando devagar, finalmente encontraram os cães. Embora conhecidos pela sua coragem e raça, agora ganiam numa moitinha no topo de um declive, alguns tentando escapulir e outros fitando, de olhos arregalados, o vale lá embaixo.
“Os cavaleiros tinham parado, e, como bem podeis imaginar, estavam mais lúcidos do que quando haviam partido. A maior parte não queria por nada avançar, mas três deles, os mais ousados ou, talvez, os mais bêbados, adiantaram-se para o declive. O caminho alargava-se no ponto onde estão aquelas duas grandes pedras que hoje ainda podem ser vistas, e que lá foram postas por gente já esquecida, dos velhos tempos. A lua brilhava na clareira, mas ali no centro estava a infeliz jovem, no ponto onde caíra morta de medo de fadiga. Mas não foi o fato de ver o seu corpo, nem tampouco o corpo de Hugo Baskerville a seu lado, que fez com que se arrepiassem os cabelos daqueles fanfarrões, e sim porque em cima de Hugo, puxando-lhe a garganta, estava urna coisa asquerosa, um animal negro e enorme, que parecia um sabujo e, no entanto, era maior do que qualquer cão de caça já visto. O bicho rasgou a garganta de Hugo, e, quando se virou para os outros, de olhos relu7entes e mandíbulas sangrentas, os três gritaram de medo e partiram desabaladamente, ainda aos berros, pelo campo afora. Um deles, ao que dizem, morreu naquela mesma noite, e os outros dois ficaram com a saúde arruinada até o fim da vida.
Sidney Paget, 1901
Sidney Paget, 1901
“É esta a história, meus filhos, da chegada do cão que dizem ter tão tristemente atormentado a nossa família desde então. Se aqui a relato, é porque as coisas conhecidas são menos apavorantes do que as que são apenas sugeridas ou adivinhadas. Nem se pode negar que muitas pessoas da família tiveram morte infeliz: morte súbita, sangrenta, misteriosa. Apesar disso, possamos nós procurar abrigo na infinita bondade de Deus, que não há de punir eternamente os inocentes, além da terceira ou da quarta geração, conforme está gravado na Sagrada Escritura. A esta Providência, meus filhos, eu vos recomendo; e aconselho-vos, como meio de prudência, a não atravessar a charneca naquelas sombrias horas em que os poderes do mal estão exaltados.
“(De Hugo Baskerville a seus filhos Rodger e John, com a recomendação de nada dizerem à sua irmã Elizabeth.)”
Quando acabou de ler a singular narrativa, o dr. Mortirner levantou os óculos para a testa e fitou Sherlock Holmes. O detetive bocejou e atirou o cigarro no fogo.
— Então? — disse ele.
— Não acha interessante? — perguntou Mortimer.
— Sim, para um colecionador de contos de fadas.
O dr. Mortimer tirou do bolso um recorte de jornal.
— Agora, Sr. Holmes, vou mostrar-lhe algo mais recente. Isto aqui é do Devon County Chronicle de 14 de junho deste ano. Uma breve notícia do que se deduziu da morte de Sir Charles Baskerville, ocorrida poucos dias antes dessa data.
Holmes inclinou-se ligeiramente para a frente, com expressão de interesse. O nosso visitante ajeitou de novo os óculos e começou:
“A morte recente de Sir Charles Baskerville, cujo nome começava a ser mencionado como provável candidato liberal por Mid-Devon, na próxima eleição, causou grande tristeza no condado. Embora tivesse residido em Baskerville por tempo relativamente curto, Sir Charles conquistara o respeito e a amizade de todos, graças à sua amabilidade e grande generosidade. Nestes dias de nouveaux riches, é, agradável encontrar um caso onde o rebento de uma velha família, que sofreu reveses, consegue fazer fortuna e empregá-la a restaurar a grandeza decaída da sua linhagem. Sir Charles, como é sabido, ganhou muito dinheiro em especulações, na África do Sul. Mais avisado do que aqueles que continuam a especular até a sorte se mostrar adversa, ganhou os seus bens e voltou para a Inglaterra. Há somente dois anos fixou residência na Mansão de Baskerville, e todos conhecem os planos de reconstrução e progresso que foram interrompidos por sua morte. Como não tinha filhos, Sir Charles desejava que todo o condado se beneficiasse da sua prosperidade, e muitas pessoas terão razões para chorar a iIi norte prematura. Os generosos donativos por ele feitos a instituições de caridade foram muitas vezes comentados nestas colunas.
“As circunstancias da morte de Sir Charles não foram inteiramente esclarecidas no inquérito, mas, pelo menos, muito se fez para dissipar os boatos espalhados pela superstição local. Não há qualquer motivo para se suspeitar de crime ou acreditar que não se trate de morte natural. Sir Charles era viúvo e, dizem alguns, um tanto excêntrico. Apesar da sua grande fortuna, tinha hábitos simples, e os seus criados em Baskerville não passavam de dois, o casal Barrymore, o marido trabalhando como mordomo e a mulher como governanta. Pelo depoimento do casal, corroborado pelo de vários amigos, sabemos que Sir Charles ultimamente não estava bem de saúde, parecia ter uma lesão cardíaca, revelada pela mudança de cor, falta de ar e crises de depressão nervosa. O dr. James Mortimer, amigo e médico do falecido, prestou depoimento a respeito do assunto.
Sidney Paget, 1901
Sidney Paget, 1901
“Os fatos são simples. Sir Charles Baskerville tinha o hábito de, todas as noites, antes de se deitar, andar pela famosa Alameda de Teixos, em Baskerville HalI. O depoimento dos Barrymores mostra que era esse o seu costume. No dia 4 de junho, Sir Charles manifestara a intenção de ir a Londres no dia seguinte e dera ordem a Barrymore para lhe preparar a mala. Naquela noite saiu, como sempre, para o passeio noturno, e era também seu hábito fumar um cigarro. Não voltou desse passeio. A meia-noite, como visse ainda aberta a porta do saguão, Barrymore alarmou-se e, apanhando uma lanterna, saiu à procura do patrão. Chovera naquele dia, de modo que foi fácil notar suas pegadas. A meio caminho, na alameda, há um portão que dá para a charneca. Há indícios de que Sir Charles parou ali por alguns minutos. Depois, continuou o passeio, e o seu corpo foi encontrado ao fim da alameda. Um fato não foi explicado, isto é, a declaração de Barrymore de que os passos do patrão se alteraram, desde o momento em que passou o portão, parecendo daí por diante ter caminhado na ponta dos pés. Um tal Murphy, cigano, vendedor de cavalos, encontrava-se no campo, não muito longe, mas ele próprio confessou que estava embriagado. Declara ter ouvido gritos, mas não sabe de onde vieram. Não havia sinal de violência no corpo de Sir Charles, e, embora o exame médico indicasse uma incrível distorção facial (tão grande que o dr. Mortimer a princípio se recusou a acreditar que se tratasse do seu amigo e cliente), isso foi explicado como sendo um sintoma não raro em casos de dispnéia e morte por ataque cardíaco. A explicação foi dada após a autópsia, que provou haver uma lesão séria, e a decisão do juiz foi unânime com a opinião do médico-legista.
“Felizmente foi esse o resultado, pois é de suma importância que o herdeiro de Sir Charles se instale em Baskerville e continue a sua boa obra, tão tristemente interrompida. Se a prosaica decisão do juiz não tivesse posto fim aos boatos românticos acerca do caso, difícil seria encontrar morador para Baskerville. Parece que o herdeiro, se estiver vivo, é o sr. Henry Baskerville, filho do irmão mais novo de Sir Charles. Quando se ouviu falar desse rapaz pela última vez, ele estava na América, e estão sendo feitas investigações para descobri-lo e informá-lo de sua boa sorte.”
O dr. Mortimer dobrou o recorte e guardou-o no bolso.
— São esses os fatos conhecidos, Sr. Holmes, em relação à morte de Sir Charles Baskerville.
— Devo agradecer-lhe por ter chamado a minha atenção para um caso que certamente apresenta aspectos interessantes disse Holmes. Li alguns comentários nos jornais, naquela altura, mas estava muito preocupado com o caso dos camafeus do Vaticano, e, no meu desejo de servir o papa, deixei de tomar conhecimento de vários casos interessantes na Inglaterra. Diz o senhor que esse artigo contém todos os fatos conhecidos do público?
— Exatamente.
— Então, conte-me os desconhecidos — disse Holmes, inclinando-se e juntando as pontas dos dedos, assumindo una expressão impassível e judiciosa.
O dr. Mortimer, que começara a dar sinais de intensa emoção, disse:
— Ao fazer isso, vou contar-lhes fatos que não confiei a pessoa alguma. A razão que tive para ocultá-los no inquérito foi a repulsa que sente um cientista em colocar-se publicamente na posição de quem aceita uma superstição. Animava-me também outro motivo, isto é, saber que Baskerville ficaria desabitada, conforme disse o jornal, caso alguma coisa viesse a denegrir mais a sua reputação. Por essas duas razões, achei que tinha o direito de dizer menos do que sabia, já que não haveria nenhuma vantagem prática; mas, com o senhor, não há motivo para não ser absolutamente franco.
“A charneca é pouco habitada, e aqueles que moram perto estão sempre juntos. Por isso, eu via muito Sir Charles Baskerville. Com exceção do Sr. Frankland, de Lafter Hall, e do Sr. Stapleton, o naturalista, não há nenhuma outra pessoa educada numa área de muitos quilômetros. Sir Charles era um homem retraído, mas a sua doença nos aproximou, e um comum interesse pela ciência nos uniu. Ele trouxera muitas informações científicas da África do Sul, e passávamos muitas noites agradáveis, discutindo anatomia comparada do bosquímamo e do hotentote.
“Nos últimos meses, vi claramente que Sir Charles estava num ponto extremo de esgotamento nervoso. Ele levara muito a sério a lenda que acabei de ler-lhe… a tal ponto que, embora passeasse pelas suas terras, nada o induziria a aventurar-se pela charneca à noite. Por incrível que pareça, Sr. Holmes, ele estava convencido de que uma terrível sina pesava sobre a sua família, e não há dúvida de que os casos que me contava nada tinham de animadores. A ideia de uma presença terrível obcecava-o constantemente, e mais de uma vez me perguntou se, numa das minhas visitas profissionais, eu vira alguma criatura estranha, ou ouvira o latir de um cão. Esta última pergunta foi-me feita várias vezes, e sempre numa voz vibrante de excitação.
Sidney Paget, 1901
Sidney Paget, 1901
“Lembro-me muito bem de ter ido uma noite à sua casa, três semanas antes da tragédia. Deu-se o caso de ele estar à porta. Eu descera da carruagem e estava na frente dele, quando vi os seus olhos fixos sobre os meus ombros, olhando para alguma coisa atrás de mim, com expressão de horror. Virei-me de repente e tive apenas tempo de ver algo que me pareceu um grande bezerro preto, que passava no alto da alameda. Tão excitado e alarmado estava Sir Charles, que me vi obrigado a ir até o ponto onde divisara o animal, para procurá-lo. Mas ele desaparecera, e o incidente causou péssima impressão ao meu amigo. Fiquei com ele a noite toda, e foi nessa ocasião que, para explicar a emoção que sentira, ele me confiou o documento que acabei de ler. Menciono este episódio porque assume alguma importância perante a tragédia que se seguiu, mas na ocasião eu estava convencido de que era uma coisa comum e que a excitação de Sir Charles não tinha razão de ser.
“Fora a meu conselho que Sir Charles resolvera ir para Londres. Eu sabia que ele sofria do coração, e a constante ansiedade em que vivia, por simples que fosse a causa, estava lhe afetando seriamente a saúde. Achei que alguns meses de distração na cidade fariam dele um novo homem. O Sr. Stapleton, um amigo comum, que muito se preocupava com a saúde de Sir Charles, era da mesma opinião. No último momento, deu-se a catástrofe.
“Barrymore, o mordomo, que foi quem descobriu a morte do patrão, mandou um dos moços da estrebaria, Perkins, buscar-me a cavalo. Eu ainda não me deitara e por isso cheguei a Baskerville uma hora depois do acontecimento. Verifiquei e corroborei todos os fatos mencionados no inquérito. Segui as pegadas na Alameda de Teixos, vi o lugar perto do portão que dá para a charneca, onde ele parecia ter parado, notei a mudança na forma das pegadas dali por diante, verifiquei que não havia outras pegadas, além das de Barrymore, nu chão macio. Finalmente, examinei com cuidado o corpo, no qual não haviam tocado até a minha chegada. Sir Charles estava de bruços, de braços abertos, com os dedos enfiados no chão, os traços convulsos por uma estranha emoção, a tal ponto que mal o reconheci. Não havia indiscutivelmente nenhum sinal de agressão. Mas uma declaração falsa fui feita por Barrymure, nu inquérito. Disse que não havia sinais nu chão, perto do corpo. Não viu nenhum. Mas eu vi… a pequena distância, frescos e nítidos.
— Pegadas?
— Sim, pegadas.
— De homem ou de mulher?
O dr. Murtimer fitou-nos estranhamente por um momento, e fui quase num murmúrio que respondeu:
— Sr. Holmes, eram as pegadas de um cão enorme!

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